Capítulo 194 O Escudo e o Encrenqueiro



Sem sequer olhar para o homem rechonchudo, Lucinia caminhou diretamente em direção à protagonista feminina. Ela olhou para a marca vermelha da mão no pescoço da mulher.

"Você! Como ousa... Ahhhh!" o homem tremeu de repente. Incapaz de continuar falando, caiu de joelhos. Cerrou os punhos com força, as narinas dilatadas enquanto forçava a cabeça a se erguer e encarava Lucínia. "O que é isso? Que habilidade é essa!? Isso..."

"Se eu fosse você, ficaria quieto."

O homem congelou ao observar o homem de cabelos brancos caminhando ao lado de Lucinia. "Duque Mo! O que você está fazendo? Eu sou um Duque!"

"E ela é uma princesa... e minha esposa." Um lampejo de desinteresse brilhou em seus olhos antes que ele se aproximasse da mulher. "Por que você machucou uma serva? E uma humana, ainda por cima?"

"Qual o problema em machucar uma mera serva?", perguntou o homem, com desgosto estampado nos olhos enquanto olhava para a protagonista. "Ela é uma mera serva! Por que alguém como você interferiria nos meus negócios?"

"Eu poderia cortar sua língua só de falar com minha esposa daquele jeito." As palavras de Mo Li fizeram o homem congelar. Ele tinha certeza de que Mo Li tinha a capacidade de machucá-lo. No entanto, estava confiante de que não o faria, pois sabia que Mo Li e o Príncipe Gavril tinham um relacionamento ruim. Machucar um dos amigos do Príncipe dentro de sua propriedade era o mesmo que insultá-lo. Ele sabia que o Duque Mo vivia pacificamente naquele reino, tinha certeza de que não perturbaria essa paz só por causa de uma mera princesa que nem consegue beber sangue.

Infelizmente para ele, nunca imaginou que Lucínia ousaria machucá-lo. "Machucar uma mulher fraca só porque você é mais forte. Que valentão." Lucínia olhou para outra serva e ordenou que ela atendesse a protagonista feminina. Então, finalmente voltou sua atenção para o homem, ajoelhado no gramado. A essa altura, a comoção já havia atraído a atenção de todos, inclusive fazendo com que alguns nobres dentro do palácio saíssem só para assistir a um espetáculo.

Um sorriso surgiu em seus lábios enquanto ela olhava para baixo e aumentava a pressão que estava aplicando no Duque. Sangue... essa era a sua habilidade.


Lucínia descobriu que, mesmo que os vampiros tivessem tipos de sangue diferentes dos humanos, ela ainda conseguia controlá-los. Aliás, sua capacidade de controlar o sangue de um vampiro era mais forte do que sua capacidade de controlar o de um humano.

Claro, Lucínia já tinha suas próprias suspeitas sobre essa habilidade. No entanto, ela ainda estava incerta sobre algumas coisas e, portanto, não queria tirar conclusões sobre o assunto.

"O que você está fazendo?" o homem sibilou, mostrando as presas, um sinal de que ele estava tentando fazer o melhor para lutar contra o que quer que fosse que o estava fazendo se ajoelhar na frente de todos!

"Intimidando você", disse Lucinia. "Afinal... eu sou mais forte que você." Seus olhos percorreram as outras pessoas ao redor antes de se fixarem no Príncipe Gavril, que a encarava da escada. Vendo que o príncipe não demonstrava nenhuma intenção de impedi-la, Lucinia continuou: "Já ouvi falar de vampiros intimidando servos humanos e acredito que já passou da hora de pararmos com isso, não?"

"Você... Quem é você para dizer isso?"

"Sou uma mulher, uma mulher fraca." Ela sorriu. "Assim como os criados que todo mundo adora intimidar."

"Eu nunca iria— "

"Escute aqui, seu idiota!" Lucinia interrompeu a voz do homem. Ela olhou para o irmão antes de continuar: "Eu não toleraria nenhum vampiro intimidando mulheres na minha frente. Como alguém que sofreu bullying de todos a vida toda, declaro-me inimiga dos valentões!"

"..."

"..."

"..."

"Tolice..."


Lucinia sorriu radiante para o homem que falava. Não demorou alguns segundos para que o homem se desfizesse no chão, tremendo de dor. "Quem é o próximo?", perguntou Lucinia, com os lábios erguidos num sorriso travesso. Então, acrescentou: "Este reino valoriza a integridade e a moral. Podemos ser vampiros, mas não somos animais. Este reino visa a coexistência com todos. Valorizamos a paz e a solidariedade." Ela proferiu. Claro, ela sabia que tudo aquilo era besteira. Ninguém a ouviria, e muitos provavelmente ririam dela pelas costas.

No entanto, Lucinia jamais se importaria com a opinião dessas pessoas. O que lhe importava era o fato de querer ver se a frase que se lembrara de repente funcionaria. Ultimamente, Lucinia conseguia ver lampejos, pequenas lembranças sobre livros que havia lido. Ela não tinha certeza se eram as lembranças de Lily ou de Lucinia; tudo o que sabia era que eram todas sobre guerra, manipulação e outros planos malignos.

'Mantenha os outros em terror suspenso, cultive o ar de imprevisibilidade'

Essa era a frase que ela vinha ouvindo ultimamente. Fazia-a sentir que ser previsível daria aos outros a capacidade de controlá-la — algo que ela não gostaria que acontecesse. Então, ela queria mostrar algo inconsistente. Queria que eles se confundissem, queria cansá-los e impedi-los de tentar prever seus movimentos. Ela estava tentando usar essa frase para intimidar e aterrorizar.

Por alguma razão, saber essas pequenas frases a estava deixando um pouco mais confiante, feroz e até mesmo maligna.

Ela sorriu para o Príncipe Gavril antes de olhar para o Duque ajoelhado. "Repita comigo."

"Você— eu nunca— "

"Repita. Depois. de. Mim!", ela aumentou a pressão e observou o sangue escorrer dos lábios do Duque. Lucinia ignorou o suspiro dos outros vampiros. Claro, eles poderiam atacá-la, mas, por algum motivo, ela tinha certeza de que o Duque Mo a ajudaria. O Duque Mo era obviamente alguém que essas pessoas temiam. Nem mesmo o Príncipe Gavril suportava olhar para o Duque por muito tempo!

Lucinia comparou o Duque a um enorme escudo, com alguém ao seu lado para protegê-la. E embora ela pudesse se proteger sem a ajuda dele, a sensação de alguém a protegendo ainda era um pouco... agradável.

"Tudo bem! Pare com isso! Pare!"

"Eu" Lucinia sorriu.

"EU"


"Nunca faria..."

"Nunca faria..."

"Ferir..."

"Ferir..."

"Outro servo", continuou Lucinia.

"Eu jamais faria isso! Servos são inferiores a animais! Eles foram vendidos! Você pode trocá-los, estuprá-los, matá-los! Eles são suas propriedades! Eu... Ahhhh!"

Lucinia franziu a testa, com uma expressão extremamente virtuosa. "Você é o mais baixo que um animal!" Ela cuspiu e aumentou a pressão, quase sufocando o Duque. É claro que ela não planejava matá-lo. Lucinia queria criar uma fachada falsa e dominar a arte da dissimulação. Isso foi algo que ela aprendeu com as lembranças que lhe davam dor de cabeça de vez em quando.

Mais uma vez, imprevisibilidade e indireção.

"Esses servos também são pessoas! Você os trata como lixo, e ainda assim se pergunta por que humanos e bruxas nos odiavam?", ela semicerrou os olhos. Por fora, seu rosto parecia extremamente emocionado, enquanto por dentro, Lucinia se perguntava se isso daria certo no final. Seria ela capaz de manipular a protagonista feminina e o protagonista masculino, fazendo-os pensar que ela não era a inimiga?

Essa deveria ser a menor das suas preocupações. No entanto, Lucinia pretendia permanecer neste mundo por alguns anos e, para sobreviver sem problemas, sua melhor opção era fazer do líder masculino seu aliado. Ela pigarreou antes de olhar para o Príncipe. "Irmão mais velho...", gritou. Algo que nunca havia usado antes. "Você acha que eu deveria matar seu amigo?"

Essa atitude ousada surpreendeu muita gente. Afinal, Lucínia já estava prestes a matar o Duque. Por que ela estava tentando envolver o Príncipe nisso tudo? Não seria muita manipulação? Se o Príncipe dissesse sim, isso o faria parecer um amigo frio que permitiu que sua irmã matasse um homem que ele conhecia há anos apenas por causa de sua ingenuidade. No entanto, se ele dissesse não, havia a possibilidade de que seu relacionamento com a própria irmã terminasse.

E a julgar pela habilidade que ela estava demonstrando, acabar com uma possível aliança com a Princesa Lucinia foi algo muito imprudente de se fazer.

Assim como o Príncipe Gavril, muitos vampiros também se calaram ao ouvir suas palavras. Todos ali estavam cientes da atual turbulência política no Reino, e ter uma aliada poderosa como a Princesa Lucínia seria muito benéfico. Vendo que Lucínia facilmente colocava o Príncipe em uma posição bastante desconfortável, muitos deles fizeram uma anotação mental para não ofender mais aquela mulher.

Embora não soubessem se a Princesa Lucinia realmente teria inteligência para lutar contra outro membro da realeza, eles sabiam que se envolver com uma mulher assim seria extremamente perigoso.

Claro, Mo Li estava apenas sorrindo, com os olhos brilhando enquanto observava a atenção de todos. Seu queixo estava um pouco mais erguido, as costas mais retas, como se estivesse silenciosamente exibindo que aquela era a mulher que ele amava, sua própria esposa.


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