Capítulo 211 Envenenado
"Kuzma ainda não voltou e duvido que volte para seus aposentos." O Rei olhou para Lucínia e depois para Mo Li. "O fato de ele estar trabalhando com as bruxas para tentar incriminá-la...", suspirou. "Estou decepcionado com ele. Não pude deixar de me perguntar por que ele abandonaria sua família — nós — e escolheria ficar do lado das bruxas."
"Amor", proferiu Lucinia. Zacharia tinha laços com as bruxas, e o Príncipe claramente o amava. Na verdade, é bastante compreensível que ele tenha escolhido Zacharia em vez do Rei e seus irmãos. Afinal, o Rei nunca foi um pai afetuoso e seus irmãos só queriam benefícios do que um relacionamento real. Kuzma deve ter descoberto que o calor de Zach é melhor do que o calor do conforto de sua cama luxuosa. "Eu não o culpo. Ele..." Antes que pudesse falar, a Rainha irrompeu de repente em direção à porta, com lágrimas já escorrendo de seus olhos.
"O que aconteceu?", perguntou ela ao Rei. "O que você fez com Kuzma?" Sem esperar que o rei dissesse uma palavra, os olhos da Rainha já estavam fixos em Lucínia. "É você... deve ser você! Diga-me! O que você fez desta vez?"
Lucinia suspirou em resposta.
"Responda-me! O que você fez com o Príncipe Kuzma?"
"Ela não fez nada", sibilou o Rei. "Kuzma já está com as bruxas. Ele fugiu depois de tentar incriminar Lucínia e matar o próprio irmão, o Príncipe Gavril. Você criou um monstro que nem hesitaria em trair sua própria espécie! Por que está culpando Lucínia?"
"Você... O que você disse?" perguntou a Rainha.
"Seu filho está em aliança com as bruxas. Encontramos uma flor da morte nos aposentos dele. Todas estavam em forma líquida. Ele era capaz de envenenar qualquer um de nós!"
"Você..." A Rainha cambaleou. Com os olhos arregalados, ele encarou o rei à sua frente. "Não... Não! Isso não é verdade!", gritou ela. "Meu filho jamais faria isso! Ele odiava bruxas! Ele jamais trabalharia com elas! Você está mentindo para mim! Você... Você está mentindo para todo mundo! Diga que está mentindo!" A Rainha sempre favoreceu o Príncipe Kuzma em detrimento de seus outros filhos e filhas. Para ele, ele deveria ser o Rei perfeito. Não há outra pessoa que deva herdar o trono além de seu segundo filho. Ela cerrou os punhos enquanto tentava controlar a raiva. Então olhou para Lucínia.
"Você...", a Rainha apontou o dedo para a Princesa. "Você está manipulando o Rei! Você é uma vadia mentirosa! Por que está fazendo isso? Por que tentaria incriminar meu filho!?" Ela tentou se aproximar de Lucinia, mas Mo Li chegou rapidamente antes que sua mão pudesse sequer tocar o cabelo de Lucinia. "AHHHHHHHHHH!", gritou a Rainha, apertando o dedo que agora faltava. "Você ousou..."
"Eu poderia te matar. Mas não permitiria que minha mulher visse uma poça do seu sangue imundo", disse ele friamente. "Vá com sua família e chore para seu pai. Diga a ele que eu fiz isso com você. Diga a ele para vir atrás de mim. Isso me daria motivos suficientes para destruir seu próprio clã."
"Você é- "
"Eu não ameaço, majestade, a Rainha. Mas você tem que experimentar para acreditar." Mo Li acenou com a mão. "Vá embora antes que eu mude de ideia e acabe com a sua vida."
"Como ousa me ameaçar? Eu sou a Rainha de—"
Suas palavras, no entanto, foram interrompidas pelo Rei. "Vá embora agora", ordenou o Rei. "Não venha aqui a menos que eu mande."
"Majestade..."
"Agora!" sibilou o Rei de repente. Ao ver isso, a Rainha só conseguiu lançar um olhar furioso para Mo Li antes de sair pisando duro do escritório do Rei. "Minhas desculpas." O Rei disse, desta vez, seu olhar se voltou para Mo Li. "Ela andava um pouco... dramática ultimamente."
"Você está facilitando demais para ela", disse Mo Li. "Ela vinha planejando tirar o trono de você há cem anos. E mesmo assim você não faz nada. Você a deixa fazer o que você quer, fazendo-a crescer os próprios chifres. Eu disse que a mataria da próxima vez que ela me ofendesse."
Lucinia apenas ouviu os dois começarem a conversar como se ela não estivesse ali. Depois de alguns minutos, Mo Li disse a ela que eles deveriam voltar para a mansão, pois o Rei precisava visitar o Príncipe Gavril para verificar se seus ferimentos já estavam cicatrizando devido à adaga que o Príncipe Kuzma estava usando.
Para a surpresa de Mo Li, Lucinia apenas assentiu. Não disse mais nada e apenas sorriu para o próprio marido. Por algum motivo, ela ainda se sentia um pouco confusa com tudo aquilo. Sentia que havia algo errado com o Rei, mas seu cérebro não conseguia entender. Algo mais estava acontecendo. Ela sentia.
"Você está bem?", perguntou Lucinia de repente ao ver suor na testa de Mo Li. Assim como ela, ele também estivera muito quieto desde que saíram do escritório do Rei. Um lampejo de preocupação surgiu em seus olhos. Ela se lembrou de que Mo Li havia bebido o vinho envenenado antes que o sistema a informasse. A princípio, ela pensou que isso não o afetaria, já que ele não demonstrava nenhum sinal de fraqueza. Mas agora...
"Estou cansado."
"Vampiros não se cansam", ela retrucou, usando a frase favorita dele contra ele. Em resposta, Mo Li lhe deu um sorriso gentil.
"Acho que vidas assim são realmente complicadas", disse ele. "Não quero viver assim."
"Viver como o quê?", perguntou ela. Mo Li, na verdade, nunca lhe disse o que ele era. Além de saber que ele era como ela, Lucinia não sabia nada sobre o passado do marido. É claro que ela também não estava interessada em saber sobre isso. Afinal, ela esqueceria de qualquer maneira. Todas as coisas que aconteceriam neste mundo se transformariam em pó quando ela partisse.
"Sou chamado de ancião." Mo Li não pareceu hesitar ao encará-la. Um longo silêncio se seguiu enquanto a carruagem continuava a avançar. "Eu... eu deveria proteger quem quer que esteja segurando a coroa." Ele proferiu. "Não sou uma ameaça à coroa, e ele sabe disso." Ele estava obviamente se referindo ao Rei. "Matá-lo seria como uma sentença de morte para alguém como eu."
"Você é um vampiro?"
"Eu sou."
"Então você é como o primeiro vampiro?"
"Não. Não estou." Ele riu baixinho. "Não existiu o primeiro vampiro. Só os antigos, os reis e os nobres." Ele suspirou. "Quando você me disse que ele estava atrás de mim... achei loucura. Ele não podia estar atrás de mim. Ele sabia sobre mim e minhas capacidades. Ele sabia que eu não poderia matá-lo, nem a qualquer um que ocupasse o trono."
Isso fez Lucínia franzir a testa. Ela olhou para ele, insistindo para que continuasse, mas o que viu mudou sua expressão. O rosto de Mo Li... estava ficando mais pálido. "Você... Você está doente? Sente alguma coisa?"
"Eu já te disse. Estou cansado." Ele lhe deu um sorriso triste. "Fora isso... não. Não sinto mais nada."
Lucinia usou a palma da mão para verificar a temperatura dele e, como esperava, sua carne estava queimando. Ela imediatamente pediu ao cocheiro que acelerasse a carruagem. Como um vampiro — um vampiro tão poderoso — poderia ter febre? Isso é simplesmente... impossível! Ao chegar à mansão, Lucinia o fez deitar na cama. "Deve ser veneno", disse ela. Mo Li não é imune a essas coisas. Ela olhou para o suor na testa dele e para o sorriso em seu rosto. "Você deveria descansar um pouco."
"Onde você está indo?"
Ela mordeu os lábios, ia dizer que ia cozinhar mingau, mas imediatamente percebeu a tolice de tais palavras. Por que o estava tratando como se fosse humano? Mas, mais importante, por que aquela situação era tão familiar? "Vou encontrar algo para te curar."
Ele riu disso.
"Você deveria descansar primeiro." Lucinia estava, é claro, confiante de que conseguiria curá-lo. Era por causa das suas poções, aquelas que ela trouxera do outro mundo. Ela sabia que seriam eficazes para o ferimento da flor da morte. Então, se o veneno que o está afetando é a flor da morte, então... "Ei, a flor da morte também pode ser usada como veneno?"
"Sim", disse ele, quase sem graça, e ela odiou imediatamente. Estava acostumada com ele sendo ríspido, sempre zombando dela e fazendo-a rir com suas falas dramáticas.
"Você consegue detectar isso?"
"Não. Nós não somos como vocês", proferiu Mo Li. Além de ser fisicamente poderoso, Mo Li não é como Lucinia, que não foi afetada por venenos. Ele não pode quebrar o domínio do mundo, pois isso seria o suficiente para mudar tudo. Afinal, ele não passava de uma anomalia, uma alma forte o suficiente para romper as amarras do universo.
"Então... Descanse, está bem? Vou garantir que você se sinta melhor quando acordar." Ela sorriu.
"Você não quer me ver morto? Pensei que você não gostasse de mim?"
Ela beliscou o braço dele lentamente. "Pare de falar e descanse."
"Sabe... você sempre gostou de me beliscar. Em todos os mundos... você tem essa tendência de me beliscar." Ele disse antes de fechar os olhos lentamente.
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