Capítulo 378: Lagarto
"Acho que já ouvi falar do quão 'mau' meu pai é", disse Anna. "Infelizmente, não vim aqui para ouvir histórias sobre a maldade dele."
"Ah?" O sorriso no rosto do Rei Agostos se aprofundou. Parecia que ele também já esperava por isso. "Você veio aqui para perguntar sobre o assassino dele."
"Quero saber o porquê."
"Ah? Interessante." Ele deu uma risadinha baixa. "Mas não é de se surpreender. Nunca pensei que aquele homem tivesse uma filha como você. Para ser sincero, eu o via como um bruto e irracional. Parece que você tem uma percepção diferente."
Ela franziu os lábios em resposta.
"Por que o mataram?"
"Hmmm... Annabel, é?", disse o Rei Agostos antes de acenar com a mão. "Deixe-nos."
"Mas Vossa Alteza…"
"Deixe-nos."
O homem chamado Rudy resmungou. Ele lançou um olhar furioso para Anna antes de sair da sala.
"Sentar…"
"Prefiro ficar em pé."
"Então... deixa eu te perguntar uma coisa. Você já viu um lagarto antes?"
Ela assentiu. Mas o que isso tem a ver com isso?
"Você sabe o que os lagartos fazem quando se sentem ameaçados?"
"Eles cortaram as caudas."
"Muito bom."
"Então você está dizendo que meu pai é o rabo?"
Em vez de responder, o homem continuou: "O lagarto fez isso como um mecanismo de defesa. Se se sentisse ameaçado, não hesitaria em cortar o próprio rabo e ir embora. Entende do que estou falando?"
"Então o Rei matou meu pai porque ele foi ameaçado. Ou pelo menos alguém ou alguma coisa o ameaçou."
"Essa é uma suposição ousada. Mas não vou dizer mais nada."
Anna olhou feio para o homem.
"Você pode ir embora se quiser", disse o Rei Agostos. "Apesar da filha do homem que eu mais odiava, eu não te machucaria."
"Por que?"
"Porque assim como seu pai... eu tenho princípios."
"Ele te machucou."
O Rei riu. "Olhe para o outro lado. Ele não me matou. Embora aleijado, estou vivo e vivendo bem. Você entendeu?"
Ela não disse nada.
"O palácio é um lugar traiçoeiro. Um erro e você acabará morrendo. Sendo um aleijado, minha presença dificilmente irritaria alguém."
"O rei ainda pode te matar."
"Hah! Aquele homem? Ele é um covarde. Ele não me faria mal simplesmente porque não queria que os outros não gostassem dele. Ele cresceu querendo que os outros gostassem dele. E bem... ele conseguiu. Pelo menos ele achou que conseguiu."
Anna tem tantas perguntas.
"Uma coisa é certa... neste reino. Ninguém além do Rei é capaz de matar seu pai. Quanto ao porquê... eu não sei. Aquele homem pode não ser tão forte quanto Isacc, mas tinha amigos, pessoas que o apoiavam, as pessoas que o fizeram rei."
"Pessoas que o fizeram Rei… vocês estão falando da Rainha Mestra?"
"Você é esperta. Sim. Aquela mulher... é apenas uma das apoiadoras dele."
"E a Rainha Luna?"
"Ah? Parece que você fez alguma pesquisa antes de vir para cá. Gostei. Você é mesmo muito inteligente." O Rei Agostos resmungou antes de tossir. Então, pediu que ela trouxesse o remédio. Sem dizer mais nada, ela obedeceu. Observou o Rei terminar o remédio.
"Você sabe... que está envenenado, né?" Anna conseguia sentir o cheiro. Não tem como um Lycan do calibre do Rei Agostos não conseguir sentir o cheiro também.
"Certo."
"Por que beber?"
"Por que não?"
"Você tem medo que eles te matem."
"Como você sabia que o envenenado não me mataria?"
"Eu senti o cheiro", mentiu Anna. "Era para te enfraquecer, não te matar."
"Hah… hahaha! Você tem razão. Se quisessem me matar, já teriam feito isso há muito, muito tempo. Claro, como ele era um covarde, preferia me manter à distância, fraco e inútil. Não seria melhor?"
Mais uma vez, ela não disse nada. Desde que chegou, vinha observando o remédio e sabia que estava envenenado. Este homem está bebendo sem nem fazer perguntas.
"Se eu não beber... ele me mata. Na minha opinião, continuar fraco é melhor do que morto." Ele se recostou e usou um travesseiro para se manter sentado. Ele a encarava com curiosidade. "Você é uma mulher corajosa."
"E você é um homem corajoso."
"Hahahaha… sua boca está realmente cheia de besteiras."
"Estou levando isso como um elogio."
"Diga-me, Annabel, você já... amou alguém antes?"
Amor? Por algum motivo, a palavra a lembrou de Mo Li.
Não, isso é impossível.
Ela era como uma nuvem, sempre em movimento. Aparecia e desaparecia. Sua vida era passageira. Não tinha como ela se apaixonar por alguém... temporário.
Pensar nisso pareceu doer em seu peito. Ela fez uma careta interior. Gostaria que parassem de falar sobre isso.
"Não", ela respondeu.
"Justo. Você é bem jovem, afinal. Bem... você me perguntou por que estou bebendo o veneno? Você deve ter se perguntado. Eu já sou um aleijado. Qual a utilidade de viver? Eu não poderia aproveitar a minha vida, de qualquer forma." Antes que ela pudesse responder, o homem acrescentou: "Bem, isso é por causa do amor. Um dia, me deram a chance de viver assim com a mulher que amo... ou morrer. Eu escolhi a primeira opção."
"Mulher que você ama…"
"A mãe do Rudy."
"Ela é…"
"Uma empregada."
"Por que você está me contando isso?"
"Hah? Você vai descobrir de qualquer jeito. Não preciso esconder nada agora. Rudy poderia lutar contra você, mas... ele não conseguiu te derrotar."
"Eu não vou te machucar." Isso não é algo que ela faria com alguém que não fez nada a ela.
"Eu sei."
"Mas eu poderia trair você."
"Eu sei." O Rei Agostos assentiu. "Eu já disse isso. Você pode fazer... o que quiser."
Anna olhou de soslaio para o homem. Apesar de toda a fachada, ela conseguia ver o cansaço em seus olhos envelhecidos. "Tenho uma proposta", disse ela.
"Proposta?"
"Eu preciso de sua ajuda."
"Não posso lutar contra o Rei."
"Não vou pedir para você fazer isso."
"Então…."
"Vou pedir que me ajude a descobrir a verdade sobre a morte do meu pai e da matilha. Em troca... matarei o Rei. Por você."
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